Boletim Informativo Março
Catálogo 2005
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BOLETIM INFORMATIVO MARÇO

Na sua opinião como ex-dirigente associativo e como lavrador o que é que pensa da situação actual da agricultura açoriana?

Bem eu gostaria de lhe responder como lavrador e não como ex-dirigente da Associação Agrícola, mas sendo eu um ex-dirigente dessa mesma associação para mim enche-me de tristeza ver as coisas da forma que estão, é o único sentimento que tenho! Dediquei da minha vida 9 anos à lavoura e vejo que passado 3 anos de ter saído com a minha equipa da Associação Agrícola da ilha de S. Miguel, o rendimento do agricultor diminuiu. Outro aspecto que a mim me diz muito é a dignidade, eu acho que lavrador hoje perdeu um pouco da sua dignidade, e isso é muito mau. Como lavrador estou a sentir na pele todos esses reflexos e basta dizer que neste ano que se passou deve ter sido dos piores anos para mim na actividade. Apanhei 29 animais com brucelose a seguir, fiz uma vacina que sinceramente destruiu parte da minha lavoura, de maneira que é um ano para esquecer. São os reflexos que eu tenho da agricultura neste momento.

Já que falou da brucelose, qual o motivo do insucesso da sua erradicação em S. Miguel?

Eu acho que a brucelose devia ser encarada como um problema de sanidade e não como um problema político. Nunca se teve uma estratégia certa, técnica e honesta sobre o que era a sanidade. Ainda temos a memória muito viva do que é que foi uma B.19, a 45/20 e agora a má aplicação da R.B.51. De modo que a brucelose é uma questão política e não uma questão técnico sanitária.

 

Que mudanças, causadas por este problema se podem prever ao nível do rendimento dos agricultores e da própria produção?

Basta fazer uma conta, se uma animal tem uma média de 7000L o leite vendido a 50$ falando ainda na moeda antiga, esse animal faz 350 cts nesse ano. A mim pagam-me um animal com genética que eu nunca mais recupero por 250cts, ao pagar esse animal não me estão a pagar a vida útil nem a genética. E ao pagarem-me não fazem mais do que o seu dever porque a brucelose é também um problema de saúde pública, e este dinheiro de forma nenhuma me vem compensar aquilo perdi.

 

Estará solucionado o problema da brucelose após vacinação?

A R.B.51 para mim é das melhores vacinas que existem para a brucelose. Mas atenção em relação aos abortos a R.B.51 só se pode dar em manadas que têm grandes crises de brucelose e que já têm abortos à muito tempo, nunca em animais gestantes e animais prontos a procriar como foi feito.

Parece que os serviços de Desenvolvimento Agrário, já dão só a vitelas dos 6 a 8 meses, finalmente aprenderam a dar a vacina como deve ser. Depois o mal-estar feito é que aprenderam!

 

 

Ultimamente têm sido realizadas uma série de reuniões na sede da AJAM por iniciativa própria de alguns lavradores, porquê tanto secretismo e porquê só serem realizadas na AJAM?

É com muito gosto que vou responder a essa pergunta, e fazendo aqui título de grande consideração pelo presidente dos Jovens Agricultores que logo desde a primeira hora nos ajudou, não só facultando uma sala na AJAM, mas também como técnico. Foi um homem que nos aconselhou e de certa forma nos ouviu, assim como outros veterinários. Foram eles que nos aconselharam, e nos chamaram à atenção. Era uma catástrofe que estava a acontecer nessas manadas, em jeito de homenagem a eles, temos a agradecer tudo aquilo que fizeram por nós!

Secretismo do grupo? Não, não há secretismos, esse grupo quando se formou, formou-se por necessidade. Temos dois grupos, um chamado Associação de Jovens Agricultores Micaelenses e outro Associação Agrícola de São Miguel, qualquer uma das associações é um grande grupo e nós não saímos dessas organizações. No entanto pedi-mos uma audiência à Associação Agrícola de São Miguel através da sua direcção, que prontamente nos recebeu há cerca de 3 meses, mas sinceramente ainda estamos à espera da resposta. A única resposta que nos chegou foi dada numa reunião de publicidade de adubos e outras coisas assim. Eu acho que não devemos confundir as coisas e devemos ter algum profissionalismo, alguma consideração por quem perde dinheiro todos os dias com essa questão que foi a vacina.

Aquilo que temos ouvido da própria direcção é que é a favor da vacinação, faz parte de um projecto conjuntamente com os SDASM e a secretaria da Agricultura. Não sei o que é que se passa no interior dos gabinetes, nem assisti a reuniões, a mim não me interessa! O que interessa a mim e aos meus colegas é que temos esse problema e o que queremos sinceramente é que isso se resolva a bem.

Juntamente com colegas meus já falámos com o Sr. Secretário, com o Director Regional e com a pessoa responsável pela sanidade e eu acho que deveríamos resolver esta questão politicamente, se não quiserem resolver a questão politicamente, como estamos a ser penalizados nos nossos rendimentos, logicamente vamos para os tribunais. Já contratámos um advogado que não faz parte da associação, não é que o seu não seja uma pessoa capaz, mas ainda não tivemos resposta passados 3 meses, e como tal decidimos avançar.

 

Manifestou ausência de apoio por parte da Associação Agrícola, e a nível de outras instituições, nomeadamente as entidades oficiais foram eficazes?

Por parte das entidades oficiais eu penso que queriam acertar, queriam matar a doença, não se pode é morrer da cura! O mal é que ocorreram problemas em manadas com e sem brucelose, e quanto a mim isso ainda é mais grave. Existem manadas que não tinham brucelose já há alguns anos, vacinadas contra IBR, BVD, neospora entre outras, e que por uma questão de prevenção vacinaram contra a brucelose. Estas manadas indemnes de brucelose tiveram vários abortos, agora que justificações vão dar as entidades oficiais?

Penso que estavam bem intencionados da parte deles, mas não querem reconhecer que foi um erro da sua parte, não sei se é por não terem dinheiro para assumir esse erro ou porque simplesmente não o querem assumir. Mas o facto é que já o reconsideraram, e isso vê-se no modo como estão a efectuar as vacinações neste momento.

Da parte das organizações a Associação Agrícola sabemos o que pensa a sua direcção. É a favor da vacina e se é a favor da vacina está a pactuar com os serviços oficiais. A AJAM, na pessoa do Dr. Virgílio como técnico e como lavrador, foi uma pessoa que sempre nos acompanhou e sempre disse que tinha-mos razão no que queríamos fazer.

 

Como disse têm-se realizado reuniões entre alguns lavradores e o Sr. Secretário da Agricultura, fala-se numa tendência de alguns lavradores para exagerarem no n.º de abortos. Quem está a “enrolar” quem? O Sr. Secretário aos lavradores ou os lavradores ao Sr. Secretário?

Essa questão nos dias de hoje penso que está ultrapassada. Temos registos dos animais para tudo, quando nascem, morrem ou desaparecem, portanto não à razão nenhuma para duvidar nem de um lado nem do outro.

Hoje em dia faz-se tudo para desmantelar grupos e deveria ser o contrário, deveriam ser acarinhados. O que falta ao nosso sector e não só, é massa crítica! Os políticos deveriam ouvir-nos, como fizeram alguns. Quanto a exageros por parte dos lavradores, aquilo que eu conheço é aquilo que me dizem e não é a mim que o têm de provar. Agora o tipo de perguntas e argumentos feitos pelo Sr. Secretário quanto a mim não são válidos.

Em tudo há bons e há maus, mas pôr em causa a dignidade do agricultor, feri-lo na sua honra é muito delicado, por favor não façam isso que eles não merecem!

São inúmeros os obstáculos associados à lavoura, no seu entender quais são os principais entraves à produção do leite e da carne?

Quanto à carne, atrevo-me a dizer que os Açores não têm carne, talvez apenas em algumas ilhas como Pico ou Flores. Como podemos falar em carne se não há direitos das vacas aleitantes? Eu penso que o futuro da carne está comprometido, basta ver algumas notícias e constatar que em alguns países da Merco sul conseguem colocar carne na Europa a metade do preço daquele com que nós a produzimos. A carne dos Açores para o Continente foi sempre um negócio de habilidosos, de muito risco. Muitos já se ficaram pelo caminho e respeito os que ainda cá estão. Não sou técnico, vejo o seu futuro com grande preocupação mas penso que se se fizer carne de qualidade, aliada ao valor das nossas pastagens seria uma mais valia. Saindo do mercado tradicional dessa carne e procurando um mercado de qualidade.

Quanto ao leite, acho que é uma questão de honra, o leite nos açores não é só um factor económico, quanto a mim o leite é também um factor social e como tal devemos olhar para ele sempre com uma grande credibilidade. Quando se fala nele pergunta-se sempre e o turismo? Não somos contra o turismo, deve existir, devem consumir os nossos produtos, mas de maneira nenhuma a região pode descorar a questão leite que para mim passa só por um grande problema – produto final! O preço pago ao produtor é de maneira nenhuma um preço viável para que os produtores tenham rendimento nas suas explorações. Se compararmos com colegas no Continente, observamos que rendimento é superior. Em Fevereiro estava a 66$L e com subsídio à parte.

E nós para produzir-mos esse leite perguntamos o que é que está feito? Água, electricidade, caminhos…, muito pouco! Emparcelamento? Nada! Fazemos um super esforço para ter produtos higienicamente bons mas sinceramente só à custa do agricultor.

 

Verifica-se um aumento no abandono da lavoura por parte dos jovens, o que é que deveria ser feito para facilitar a instalação dos jovens agricultores?

Sou apologista de que os jovens são sempre melhores que os mais velhos, e digo isso porque quero que os meus filhos sejam melhores que eu. Podem ter a mesma profissão que eu, mas têm que aprender, ter mais técnica e mais sabedoria. Isso é uma lei natural das gerações do ser humano. Neste momento os Açores deveriam sofrer uma reestruturação da Agricultura. E essa reestruturação doa a quem doer, quer através do processo de reformas antecipadas quer do processo de resgate leiteiro tem de ser feita. Mas gostaria que esses jovens entrassem com algum capital quer monetário quer de sabedoria. Os jovens que fazem projectos de primeira instalação, em vez de começarem a trabalhar e fazerem cursos de preparação deveriam, fazer os cursos primeiro e só depois veriam se tinham ou não habilitações e se queriam mesmo essa vida de agricultor. Desta forma teríamos agricultores mais bem formados.

 

 

Como vê o futuro da lavoura?

Há uns tempos atrás tínhamos uma palavra a globalização, sentíamo-nos pequeninos e engolidos por essa globalização, mas resistimos a ela, com sacrifício mas resistimos. Compreendo que temos de ser concorrenciais e agressivos mas sobretudo muito profissionais nas nossas vidas. Ainda não estamos no patamar da agricultura europeia, mas caminhamos para isso!

Penso também que deveríamos caminhar para uma reestruturação do sector para que daqui a 10 anos possa-mos ter uma agricultura rentável, acrescentando que o agricultor nesta terra seja equiparado ás outras profissões. Gostaria de acabar a minha vida útil com uma reforma condigna no sector. Não é com 36 cts que o agricultor se pode reformar. Porque não compará-lo com um professor ou um estivador, profissões tão dignas como a nossa!

 

Para terminar gostaria de agradecer à AJAM o apoio que me tem dado, agradecer o convite para participar nesta entrevista e já agora queria aproveitar a oportunidade para dizer que gostaria um dia de ver uma fusão entre as duas associações, pois penso que não faz sentido a existência de duas associações que no fundo lutam pelo mesmo objectivo a dignidade e o rendimento do agricultor!

 

 

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