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BOLETIM INFORMATIVO SETEMBRO
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Vacas que urinam com sangue (Hematúria Enzoótica Bovina)
As vacas que urinam com sangue têm tido uma evolução crescente nos últimos anos na ilha de São Miguel. Esta doença com o nome científico de Hematúria Enzoótica Bovina caracteriza-se pela presença de tumores múltiplos na bexiga sendo mais de 70% destes malignos (carcinomas), manifestando-se pela presença de sangue na urina e anemia (sangue fraco).
Face ao carácter maligno da neoplasia que se forma na bexiga, não existe um tratamento eficaz para a doença. A longevidade desses animais é muito curta, já que usualmente se apresentam fracos, debilitados, com baixas produções de leite e dificuldade em ficarem gestantes. A Hematúria enzoótica bovina é uma doença de evolução crónica, não infecciosa e não transmissível de animal para animal.
A ingestão do feto ou “feito” das pastagens pelos bovinos, é apontada como a principal causa da Hematúria enzoótica bovina. Embora a planta não seja palatável e de muitos produtores afirmarem que os seus animais não ingerem feto, determinadas condições favorecem a sua ingestão pelos bovinos.
Por exemplo, em épocas de escassez alimentar, a fome constitui a primeira causa básica de ingestão do feto pelos bovinos. Isto normalmente ocorre na estação seca (Junho a Setembro), uma vez que esta planta suporta bem o período sem chuvas, possibilitando a sua procura pelos animais. Inclusive observa-se que alguns animais ficam “viciados” na ingestão do feto, uma vez que ao entrarem numa nova parcela, procuram avidamente esta infestante. Também quando os animais são alimentados em pastagens pobres em fibra, suprem esta necessidade na ingestão dos caules do feto. Para além disso, os bovinos encontram-se na maioria das vezes com carências minerais, uma vez que os solos micaelenses são pobres em zinco, cobalto, cobre e em selénio, favorecendo dessa forma a ingestão dessa planta. Contudo foram identificados vários compostos químicos, sendo um destes compostos, o ptaquilósido, altamente perigoso para os animais, devido às suas propriedades cancerígenas.
Desde 1998 já foram reprovadas para consumo mais de 9 000 carcaças de bovino por serem portadores de tumores na bexiga. Em 2003 foram rejeitadas 2 534 carcaças de bovinos no Matadouro Industrial de São Miguel (MISM). Já neste primeiro semestre de 2004 o MISM rejeitou 2411 bovinos, dos quais 1252 carcaças (52%) eram portadoras de TB, correspondendo a um total de 320 532kg de carne para incinerar. Os tumores de bexiga constituem a principal causa de rejeição de carcaças no MISM.
Apesar das medidas governamentais implementadas nos últimos anos, com o intuito da melhoria da estrutura produtiva regional e no cumprimento das normas comunitárias relativas às condições sanitárias de produção de carne, o governo regional já despendeu mais de € 2 173 100 (435 667 434$00) em “subsídios” e seguros de rezes aos proprietários dos bovinos portadores de TB de São Miguel.
Mesmo com estes apoios financeiros, a doença manifesta sempre uma tendência crescente, mostrando uma vez mais que nem sempre a atribuição de subsídios é a melhor forma de resolver os problemas na pecuária micaelense.
A forma mais eficaz de controlar o feto passa pela aplicação de um herbicida sistémico e selectivo, o Asulox®. A sua aplicação deverá ser realizada nos meses de Julho e Agosto, uma vez que é nesta época que o feto inicia o armazenamento de reservas nutritivas no rizoma e por conseguinte torna-se mais sensível à acção do herbicida. Este produto destrói os rizomas da planta, permitindo o controlo a longo prazo desta infestante. Numa primeira aplicação há uma redução até 80% do feto, sendo os 4 anos seguintes apenas de controlo. Mas, se uma pastagem apresentar para além do feto, outras infestantes, é aconselhável a utilização de um herbicida total, como um qualquer glifosato.
Com o objectivo da diminuição do número de vacas que urinam com sangue e da rejeição por tumores de bexiga, a Cooperativa Juventude Agrícola, CRL, em parceria com os Serviços de Desenvolvimento Agrário da Ilha de São Miguel desenvolveram um projecto destinado à prevenção Hematúria enzoótica bovina por controlo do feto comum nas pastagens micaelenses. Com a aprovação deste projecto, a Direcção Regional de Desenvolvimento Agrário, apoia a aquisição do Asulox®, com uma comparticipação de 75%. Dessa forma, a Cooperativa Juventude Agrícola, CRL, passou a disponibilizar o herbicida mais selectivo existente no mercado, a toda a lavoura por um preço de 5€/litro. Presta ainda apoio técnico na selecção do equipamento e metodologia mais adequada à aplicação do herbicida e ao controlo da doença.
Bruno Almeida
Eng.º Zootécnico