Boletim informativo SETEMBRO
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BOLETIM INFORMATIVO SETEMBRO

Agricultura Biológica

O interesse crescente dos consumidores pelos problemas da segurança alimentar, causados pelas crises de confiança, decorrentes de sucessivos escândalos alimentares, percebidos pelos cidadãos como consequências nefastas da intensificação das produções vegetais e animais, gerou um claro movimento de opção pela escolha cuidada dos alimentos. O sector do mercado de produtos de agricultura biológica é um dos que tem tido maior crescimento, e pelas questões ambientais tem contribuído para o desenvolvimento da agricultura biológica nos últimos anos.

Embora representando apenas cerca de 3 % da superfície agrícola útil, a agricultura biológica constitui, na realidade, um dos mais dinâmicos sectores agrícolas na União Europeia e corresponde cada vez mais, a um outro modo de fazer agricultura, mais seguro, mais sustentável, mais de acordo com as expectativas dos consumidores, mas também mais caro.

Face ao aumento da procura de produtos resultantes da agricultura biológica e ao crescente interesse dos consumidores por estes produtos, a reforma da Política Agrícola Comum, reforçou a dimensão ambiental da agricultura e veio possibilitar o apoio financeiro ao modo de produção biológico, contribuindo fortemente para fortalecer o seu crescimento na Europa.

Desde a entrada em vigor da regulamentação comunitária relativa à Agricultura Biológica, em 1992 e devido ao interesse e procura crescentes dos consumidores pelos produtos dele resultantes, dezenas de milhares de explorações adoptaram este modo de produção e consequentemente aumentou a área dedicada à Agricultura Biológica como se pode observar na fig.1.

 

 

A Agricultura Biológica deve ser entendida como componente de um sistema de exploração sustentável e como alternativa viável em relação a formas mais tradicionais de agricultura.

Em Portugal há diversos apoios aos agricultores em modo de produção biológico, designadamente através do Programa AGRO, da Medida AGRIS dos Programas Operacionais Regionais e das Medidas Agro-Ambientais do Plano de Desenvolvimento Rural, abreviadamente designado por RURIS.

Os agricultores que praticam a agricultura biológica beneficiam de prémios agro-ambientais, dado terem sido reconhecidas as vantagens para o ambiente deste sistema de exploração agrícola.

 

Mas então o que é a Agricultura Biológica?

 

A Agricultura Biológica, é um conceito diferente da actual agricultura industrial. Não é uma nova técnica agrícola nem é algo restritivo ou retrógrado, nem é agricultura “tradicional”, pouco produtiva e desgastante para os solos, pelo contrário, é criativa, científica e avançada, permite a solução de graves problemas ambientais, sanitários e sociais. É também conhecida como “agricultura orgânica” (Brasil e países de língua inglesa), “agricultura ecológica” (Espanha, Dinamarca) ou “agricultura natural” (Japão) e distingue-se de outros sistemas de exploração agrícola em diversos aspectos.

Ao contrário da agricultura convencional praticada nos dias de hoje que visa, acima de tudo, produção, deixando em segundo plano a preocupação com a conservação do Meio Ambiente e a qualidade nutricional dos alimentos, é dada preferência aos recursos renováveis e à reciclagem, devolvendo-se aos solos os nutrientes presentes nos resíduos, no caso da agricultura convencional, as plantas escolhidas para o melhoramento geralmente são as que melhor respondem à adubação mineral, tornando necessária a aplicação frequente de fertilizantes solúveis, ocasionando desequilíbrio mineral no solo,  por outro lado geralmente são utilizados híbridos de plantas melhoradas, em que o agricultor não consegue reproduzi-las na sua propriedade e precisa sempre comprar as sementes da empresa que as produz. O sistema de monocultura favorece o aparecimento de pragas, doenças e ervas invasoras, fazendo com que o agricultor tenha que utilizar agro tóxicos para conseguir produzir. Esse sistema também provoca rápida perda de fertilidade do solo, pois facilita a erosão, reduz a actividade biológica e esgota a reserva de alguns nutrientes. Assim sendo, o agricultor está sempre dependente das grandes empresas, seja para comprar sementes, fertilizantes, insecticidas, herbicidas, etc. e quem acaba por ficar com a maior parte (40% a 80%) do lucro são elas.

No respeitante à pecuária, a regulamentação da produção de carne, incluindo de aves de capoeira, dá especial atenção ao bem-estar dos animais e à utilização de alimentos naturais. A agricultura biológica respeita os mecanismos ambientais de controlo de pragas e doenças, na produção vegetal e na criação de animais, evitando o uso de pesticidas sintéticos, herbicidas e fertilizantes químicos, hormonas de crescimento, antibióticos e manipulações genéticas. Em vez destes, os agricultores utilizam, na produção biológica, diferentes técnicas que contribuem para o equilíbrio do ecossistema e para reduzir a poluição, recorrem a práticas ecológicas tais como rotações culturais, utilização de adubos verdes, consociações, luta biológica contra pragas e doenças, fomentando o seu equilíbrio e biodiversidade. Baseia-se na interacção dinâmica entre o solo, as plantas, os animais e os humanos, considerados como uma cadeia indissociável, em que cada elo afecta os restantes.

Vantagens da Agricultura Biológica

Carlos Oliveira

Eng. Zootécnico